Amália Rodrigues escreveu um belo poema dedicado às gentes da nossa terra.
Escreveu a certa altura dos versos:
“Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi
Esta tristeza que trago
Foi de voz que recebi”
Ouvi centenas de vezes este fado na voz límpida de Mariza e algumas vezes as lágrimas vieram-me dos olhos tal como diz parte do fado.
“ Sempre que se ouve um gemido
Numa guitarra a cantar
Fica-se logo perdido
Com vontade de chorar”
Pois é! Embora já tenha percorrido quase todas as vilas e cidades do nosso Portugal ainda não me tinha apercebido que a realidade não é bem assim.
O respeito pelas pessoas com o tempo vai-se diluindo. Talvez a causa sejam as novas tecnologias. Já ninguém conversa ou se preocupa com os vizinhos. Os pais não têm tempo para educar os filhos, deixando essa missão para a escola esquecendo-se que a educação é feita em casa com os pais e avós ficando a escola com a missão da formação.
Os filhotes em casa resguardam-se nos seus cantos juntos ao computador onde ganham as azas para o bem e para o mal. Aquela coisa de todos se juntarem à mesa nas horas das refeições já está ultrapassado. – A maioria come na cozinha e um de cada vez – Resultado; Os filhos não aprendem a conviver e os pais já se esqueceram de como é.
Tudo isto para vos dizer que hoje apeteceu-me dar uma volta por algumas vilas de Sintra e acabei parando para comprar um maço de tabaco e beber uma bica num café esplanada na vila da Assafora.
Era manhã e então verifiquei a azáfama do entre a sai de gente para apressadamente tomarem o pequeno-almoço. Uns eram casais com filhos, outros sós.
Notava-se assim que uns iriam para o trabalho e no caminho iriam deixar os filhotes na escola. – Gente fina ou endinheirada ou novos-ricos que por ali vivem – Haviam também umas senhoras que entravam sós para o pequeno-almoço. – Notava-se que essas, eram as donas de casa que se juntavam em grupos para a conversa do mal ou bem dizer dos vizinhos ou sobre as novelas que tinham visto na noite anterior nas TVs enquanto seus maridos tinham abalado para o emprego.
Durante duas horas a azáfama continuou. Não os contei mas foram pelo menos uma centena de pessoas.
Depois do primeiro café acabei por comer uma torrada e beber um leite com chocolate e mais uma bica. Estava entretido e achei graça lembrando-me novamente do poema Ó Gente da minha Terra e fiquei triste.
Talvez por eu já ser antigo e ter sido educado com os princípios do antigamente verifiquei que esta gente não é mais a gente da minha terra.
Eu estava na esplanada mesmo de frente para a porta de entrada e ao lado da que dá para o interior e pasme-se.
Entre toda aquela gente só dois e mais velhos olhando-me nos olhos como todos os outros disseram BOM DIA.
Qualquer semelhança com factos reais é mera coincidência, ou não! O geral ultrapassa a ficção
Nelson Camacho D’Magoito
“Contos ao sabor da imaginação” (nc026)
© Nelson Camacho
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